00 two and a half men Psicologia nas telas: Two And A Half Men
Série norte-americana criada por Chuck Lorre e Lee Aronsohn, exibida nos Estados Unidos pela CBS e no Brasil pelo Warner Channel.
A série aborda com inteligência e leveza assuntos que moram nos lares de todas as famílias e que dizem respeito a todos nós.
Sentimentos como frustração, medo, vontade de amadurecer e não conseguir e angústia são abordados de forma sincera e engraçada.
Identificamo-nos e nos pegamos em muitas situações parecidas, que nos provocam sentimentos parecidos, mas “indizíveis”. Então os personagens dão “voz” ao que não revelamos abertamente, mas teríamos muita vontade de fazê-lo.
Charlie Sheen é Charlie Harper, que veste a camisa de um norte-americano solteiro e superficial, buscando a manutenção de sua “felicidade” por meio de relações amorosas sem vínculos e bastante bebida para tapar o buraco que não foi preenchido.
Alan Harper, seu irmão, interpretado por Jon Cryer, mora na casa de Charlie com seu filho e está temporariamente falido. Pense: uma vez que havia um buraco e foi preenchido com veneno, naturalmente o dono do buraco evitaria outra possibilidade de que isso voltasse a acontecer. O veneno chama-se Evelyn e é sua mãe, vivida pela atriz Holland Taylor, a quem apelidou de vampira de almas, ou “soul sucker”.
00 CharlieHarper Psicologia nas telas: Two And A Half MenEla vampirizou a possibilidade de ele confiar no mundo e nas pessoas, pois além do dinheiro, suas doses de “carinho” trazem a frieza e a falta de contato. Evelyn, uma mulher narcisista, é incapaz de olhar para as verdadeiras necessidades dos filhos e muito menos fornecer-lhes o que precisam. Agora adultos, eles já formaram defesas para sobreviver, mas só as criaram porque foram submetidos a uma mãe invasiva, controladora, que não deixou que eles se desenvolvessem sem cicatrizes emocionais.
00 AlanHarper Psicologia nas telas: Two And A Half Men
Alan estruturou-se de forma (aparentemente) oposta ao irmão. É rígido e controlador como a mãe, mas busca identificação com outras mulheres que possam fazê-lo reviver, ou melhor, viver aquilo que ele nunca viveu.
Nesse sentido, Alan é mais sadio, pois tem esperança que um vínculo amoroso possa tirá-lo desse estado rígido e possibilitar seu desenvolvimento genuíno. A falta de atributos estéticos valorizados socialmente também colaborou para uma autoestima baixa e pela busca incessante de carinho e atenção.
Berta, Conchata Ferrell, diarista de Charlie, faz a função parcial da mãe: controladora, cínica e intragável. Isso nos mostra que a “zona de conforto” de Charlie ainda está calcada nas “faltas” que essas duas mulheres representam (elas não têm afeto para oferecer) e ele prefere que continue assim.
00 jake Psicologia nas telas: Two And A Half Men
Jake, vivido por Angus T. Jones, filho de Alan e sobrinho de Charlie, é a mais nova vítima da geração que luta contra o controle, o domínio e a sedução da avó. Para justificar seu comportamento alheio, acredito que as características da mãe, Judith, vivida pela atriz Marin Hinkle, vem de encontro com as da avó paterna e contribuem para que ele construa um mundo particular, compreendido muitas vezes como alienação ou distração.
Os fins de semana que passa em contato com seu tio excêntrico e mulherengo afetam a maneira como Jake sente o mundo, tornando-o mais cínico e alienado, bem como acelerado no seu processo de desenvolvimento. Charlie apresenta oscilação de afeto e entra em conflito constante entre aumentar ou distanciar o vínculo com o sobrinho em prol da manutenção de seu mundo narcisista, provavelmente herdado pela mãe.
Os personagens são cômicos, as falas bem dosadas e o humor refinado/escrachado coexiste no seriado. Seria trágico, não fosse muuuito engraçado