Klimt

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Mommie Dearest



"Se ela não gosta de você, pode te fazer desaparecer"
 Christina Crawford"
 Direção: Frank Perry.   Faye Dunaway como: Joan Crawford.Diana Scarwid como: Christina Crawford.
Joan Crawford, famosa atriz hollywoodiana, tem sua biografia não autorizada escrita e publicada pela filha adotiva mais velha, Christina Crawford, logo após sua morte, em 1978.
O livro homônimo, Mommie Dearest (Mamãezinha Querida), tornou-se best seller e foi adaptado para o cinema. Pessoas que conviveram com mãe e filha confirmam a versão de Christina, que retrata uma mãe ambígua, violenta e enlouquecedora.   
 Narcisismo                                                                  
Todos temos componentes narcisistas. O narcisismo, em boa medida, tem a função de proteger a psique. Promove uma sensação de autocontentamento e autossuficiência. Mas se essa característica for vivida muito intensamente, em detrimento de outras, é compreendida como transtorno.
Pessoas narcisistas têm grande necessidade de admiração, sentem-se grandiosas, superiores e cortam toda possibilidade de acesso ao seu íntimo.
Isolam-se afetivamente, como se fossem uma ilha, e tentam nutrir-se de si próprios.
Um dos maiores medos do narcisista é que o “outro” descubra e deflagre um mundo que ele tenta a todo custo negar e que os fazem sentir como o oposto do que tentam demonstrar.
Filha de uma mãe narcisista
Caso não tenha assistido ao filme, sugiro parar por aqui.
 A filha de Joan passa a infância tentando decifrar as ambigüidades da mãe.
Ora irracional e enlouquecida, ora amorosa, delicada e encantadora. Christina submetia-se aos caprichos de sua mãe, mas não era o suficiente.
Como toda criança rumo ao crescimento, ela tenta “brincar de ser a mamãe” com suas bonecas, brincava de atuar, de se sentir, assim como a mãe, adorada por fãs imaginários.
Quando Joan presencia estas cenas, enlouquece. Vê refletida na filha uma imagem de si, do seu lado falso, mentiroso. Mais uma vez a filha é lançada no caos, não compreende as reações de sua mãe e sente-se, de certa forma, responsável pelos surtos.
Toda vez que Christina tenta existir, ter opinião, tomar pequenas decisões, é violentamente reprimida pela mãe.                                                                                      
O amor incondicional cristão que permeia nossos padrões de comportamento, cede lugar ao “amor” condicional. Eu te darei todo meu “amor”, desde que... caso não seja de acordo com meu desejo, caso você não seja como eu preciso que seja, não terá nada, nem amor, nem mãe, nem herança (Christina foi deserdada pela mãe pouco antes desta falecer).
Joan queria conviver com um único lado da filha, o mesmo que tentava dissimular em sua vida.           
Com o decorrer do filme, assistimos o trincar do castelo de vidro que Joan criou em torno de si. O “mau” que estava trancafiado no sótão continuava muito vivo. A insegurança, a sensação de impotência, de não-pertença, cresciam em território selvagem de sua psique, assumindo formas monstruosas
A Deusa que seus fãs adoravam era uma Deusa mitológica, violenta, temperamental, vingativa... humana. Viveu tentando ser, buscando um sentido para viver. Em sua busca o destino cismava em confrontá-la com o objeto de sua fuga. Fugia de si e encontrava-se em cada cena, dentro ou fora do setting. 
Christina, quando criança, brincava como tentativa de compreender o que vivia. Adulta, continua a “brincar”, criando livro e filme.
Joan, por outro lado, não brincava, não sabia brincar. Vestiu a personagem que criou, atendia aos anseios dos fãs e foi engolida pela sua criação. Vivia como uma equilibrista bêbada, entre seus vários eus despedaçados.
Uma mãe que projeta no filho a esperança de um novo começo, o enxerga como uma extensão de seu ser, usa de manipulações, chantagens, privações, ameaças...para que a realidade não se atreva a confrontar seu desejo. O fato deste filho querer viver e ser independente é uma afronta e uma ameaça.
 
Não existe amor nessa relação, pois amar pressupõe o reconhecimento da existência do outro. O que há são pessoas que amam suas projeções, a idéia que criam em torno de alguém.
Há outras que fazem de tudo para adivinhar o que o outro espera e prontamente tentar desempenhar este papel, o de agradar
O mais interessante é que quem projeta e quem vive de acordo com a projeção do outro, pertencem a mesma categoria e possuem as mesmas faltas.
Uma esperança surge quando a defesa começa a ruir, a da construção de um “eu” mais real, que não se constitua a partir do desejo do outro e que aprenda a identifcar-se com o outro e não no , a partir do outro.
Narciso morre de amor pela sua imagem, embora morra sem saber de fato quem é. Joan acreditava nessa paixão, e era verdadeira., mas paixão é encantamento, entorpecimento, distanciamento da realidade.
Viveu e morreu sem de ter conseguido existir.
 "Acabou o sofrimento mamãe"
     Christina, ao ver a mãe morta no caixão


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