Klimt

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Clube da Luta

 "Clube da Luta" David Fincher, 1999
Parte de nossa constituição mental é ocupada pelo coletivo, cultural. Nossa aprendizagem do mundo se dá pelas tramas deste tempo, do sistema cultural, financeiro, político, religioso vigentes, a parte que teve que se adaptar para viver neste mundo. Uma outra parte permanece guardiã de aspectos pessoais, íntimos, que caracterizam e diferenciam a atuação de cada um dentro deste mesmo cenário.

Nas pessoas saudáveis há uma tendência à repressão dos impulsos “animais”, instintos, em detrimento da convivência, da inserção, da sensação de pertencimento. Agimos cordialmente, respeitamos algumas regras básicas, mas ali está presente uma parte “flexível”, menos verdadeira e mais ensaiada, voltada para a sobrevivência externa, em determinado grupo. 
A realidade comporta aspectos nocivos e saudáveis e convivemos com todos diariamente. Caso consigamos identificar o que dentro de nós é derivado de nossa cultura “somos o que possuímos”, “somos nosso trabalho”, identificaremos o que é realmente nosso ou nos depararemos com uma sensação de vazio, como se não tivéssemos nada além disso.
Caso não tenha visto o filme, sugiro parar por aqui
No filme "Clube da Luta", Edward Norton faz um personagem com tendências psicóticas, inserido em um sistema que colabora para seu distanciamento da realidade compartilhada, cedendo cada vez mais espaço para uma realidade ainda não explorada.
 O protagonista é atormentado pela contradição que o compõe. Não consegue mais sobreviver em alicerces falsos (aspectos sociais incorporados que vão deixando de fazer sentido) e, ao mesmo tempo, não tem controle sobre o lado pouco explorado de sua mente, contato com aquilo que o torna único e solitário nessa condição . Ele vive em um “estado de insônia” constante, tudo parece ser “cópia da cópia”. Ou seja, ele não sente nada como original e verdadeiro, iniciando por si.
 A vida torna-se tediosa e sem sentido. Ele sai em busca de identificações, busca pessoas que sofrem “de verdade” em grupos para tratamento psicológico de diversas doenças.
Nestes grupos conhece Marla Singer vivida por Helena Bonham Carter, que sofre do mesmo mal que ele, `a “espera tediosa e angustiante da morte”. Ela diz
"A camisinha é o sapatinho de cristal da nossa geração. Você veste, dança com um estranho `a noite inteira e depois joga fora"
reforçando sensação de encontros descartáveis. O romantismo teria cedido lugar a um ambiente mais seguro emocionalmente, o virtual.
Paralelamente, surge um personagem que vem de encontro às suas mais profundas necessidades e o coloca em cheque com a realidade concreta e a pessoal. Tyler Durden, vivido por Brad Pitt, o convidando-o a uma jornada para “expandir” o que pensou do mundo e de si até aquele momento. Tyler rejeitava a civilizacão e não aceitava negociação, somente destruição. Mostrava a ambiguidade da sociedade, um sistema que ele julgava nocivo, sem sentido.
A briga interna entre seu “eu real”, em forma bruta, e seu “eu lapidado”, é retratada a cada minuto com mais intensidade. O personagem confunde-se cada vez mais com seu lado “animal” enquanto se distancia da realidade concreta que o cerca. Poderia ser positivo, caso pudesse manter-se são e integrar esta força, ao invés de ser praticamente devorado por ela, embora não seja uma questão de opção, mas de condição.
Essa libertação, necessária para sua sobrevivência autêntica, mesmo aparecendo em forma de doença (psicose), é mais real que sustentar um “eu artificial”, afinal ele estava morto desde o início.
Lutou para sobreviver da melhor maneira que conseguiu.


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